O Factor Vara segundo Miguel Sousa Tavares
O factor Vara
Miguel Sousa Tavares
Ultimamente tenho sido industriado num conceito novo sobre a vida que é também uma filosofia de vida: ser "leve". Ser "leve" é o contrário de ser "pesado", é, parece, a capacidade de levar as coisas sempre de uma forma ligeira, de não se preocupar demasiadamente com nada nem dar demasiada importância a coisa alguma. Aconteça o que acontecer, façam o que fizerem, as pessoas "leves" levam tudo na despreocupada: nada deve ser suficientemente grave ou importante para que deixem de rir e de sorrir todo o tempo e em todas as circunstâncias. Trata-se de um conceito moderno e urbano, que a mim me deixa um pouco baralhado, até porque nos últimos anos tenho aprendido a preferir cada vez mais a chuva no campo do que os dias cinzentos na cidade. É verdade que os portugueses sorriem pouco e que sorrir faz bem à saúde e torna as pessoas mais bonitas. Mas lembro-me de a minha mãe dizer que os que vivem eternamente felizes e despreocupados, sempre a rir ou a sorrir, ou são parvos ou são inconscientes. Sim, porque é difícil distinguir onde acabam as virtudes de ser "leve" e começa a estupidez de ser leviano. A fronteira não é clara e há-de ser estreita.
Mas de uma coisa estou certo: só se pode levar as coisas numa "leve" quando se tem condições para tal. Quem vive em quadros de miséria e carência, quem tem da vida urbana uma paisagem de subúrbios desumanizados, quem tem problemas sérios de saúde, quem viu morrer um filho ou alguém muito próximo e amado, quem viu morrer uma após outra todas as ilusões, ou não é "leve" ou anda a Prozac. Poder ser "leve" é um privilégio, não toca a todos.
Mas tenho andado a pensar seriamente no assunto – tentando, claro, pensar de uma forma "leve", para que faça sentido. Muita gente, e leitores meus, acham que eu me indigno vezes de mais com coisas de mais. Não valeria a pena. Há um tipo que escreve sobre mim num blogue e que se irrita sobremaneira com o que ele acha ser a minha indignação permanente e traça de mim um retrato, até físico, que me deixa abalado. Preocupam-me, então, duas coisas: a minha recorrente indignação, tal como ele a descreve, e o facto de a minha indignação acarretar a indignação dele. Vou tentar mudar, a bem dos dois. Em vez de dizer que as coisas me indignam ou revoltam, vou passar a dizer suavemente que elas me deprimem. Por exemplo: a história de Armando Vara, promovido ao nível máximo de vencimento na Caixa Geral de Depósitos e para efeitos de reforma futura, depois de já estar há dois meses a trabalhar na concorrência do BCP, é uma história que me deprime. Não, não, acreditem que, apesar de isto envolver o dinheiro que pago em impostos, esta história não me revolta nem me indigna, apenas me deprime. E de forma leve. Eu explico.
Toda a 'carreira', se assim lhe  podemos chamar, de Armando Vara, é uma história que, quando não possa ser  explicada pelo mérito (o que, aparentemente, é regra), tem de ser levada à conta  da sorte. Uma sorte extraordinária. Teve a sorte de, ainda bem novo, ter sentido  uma irresistível vocação de militante socialista, que para sempre lhe mudaria o  destino traçado de humilde empregado bancário da CGD lá na terra. Teve o mérito  de ter dedicado vinte anos da sua vida ao exaltante trabalho político no PS,  cimentando um currículo de que, todavia, a nação não conhece, em tantos anos de  deputado ou dirigente político, acto, ideia ou obra que fique na memória.  Culminou tão profícua carreira com o prestigiado cargo de ministro da  Administração Interna – em cuja pasta congeminou a genial ideia de transformar  as directorias e as próprias funções do Ministério em Fundações, de direito  privado e dinheiros públicos. Um ovo de Colombo que, como seria fácil de prever,  conduziria à multiplicação de despesa e de "tachos" a distribuir pela "gente de  bem" do costume. Injustamente, a ideia causou escândalo público, motivou a  irritação de Jorge Sampaio e forçou Guterres a dispensar os seus dedicados  serviços. E assim acabou – "voluntariamente", como diz o próprio – a sua fase de  dedicação à causa pública. Emergiu, vinte anos depois, no seu guardado lugar de  funcionário da CGD, mas agora promovido por antiguidade ao lugar de director,  com a misteriosa pasta da "segurança". E assim se manteve um par de anos, até  aparecer também subitamente licenciado em Relações Qualquer Coisa por uma também  súbita Universidade, entretanto fechada por ostensiva fraude académica. Poucos  dias após a obtenção do "canudo", o agora dr. Armado Vara viu-se promovido – por  mérito, certamente, e por nomeação política, inevitavelmente – ao lugar de  administrador da CGD: assim nasceu um banqueiro. Mas a sua sorte não acabou aí:  ainda não tinha aquecido o lugar no banco público, e rebentava a barraca do BCP,  proporcionando ao Governo socialista a extraordinária oportunidade de domesticar  o maior banco privado do país, sem sequer ter de o nacionalizar, limitando-se a  nomear os seus escolhidos para a administração, em lugar dos desacreditados  administradores de "sucesso". A escolha caiu em Santos Ferreira, presidente da  CGD, que para lá levou dois homens de confiança sua, entre os quais o sortudo  dr. Vara. E, para que o PSD acalmasse a sua fúria, Sócrates deu-lhes a  presidência da CGD e assim a meteórica ascensão do dr. Vara na banca nacional  acabou por ser assumida com um sorriso e um tom "leve".
Podia ter acabado aí  a sorte do homem, mas não. E, desta vez, sem que ele tenha sido tido ou achado,  por pura sorte, descobriu-se que, mesmo depois de ter saído da CGD, conseguiu  ser promovido ao escalão máximo de vencimento, no qual vencerá a sua tão  merecida reforma, a seu tempo. Porque, como explicou fonte da "instituição" ao  jornal "Público", é prática comum do "grupo" promover todos os seus  administradores-quadros ao escalão máximo quando deixam de lá trabalhar. Fico  feliz por saber que o banco público, onde os contribuintes injectaram nos  últimos seis meses mil milhões de euros para, entre outros coisas, cobrir os  riscos do dinheiro emprestado ao sr. comendador Berardo para ele lançar um raide  sobre o BCP, onde se pratica actualmente o maior spread no crédito à habitação,  tem uma política tão generosa de recompensa aos seus administradores – mesmo que  por lá não tenham passado mais do que um par de anos. Ah, se todas as empresas,  públicas e privadas, fossem assim, isto seria verdadeiramente o paraíso dos  trabalhadores!
Eu bem tento sorrir apenas e encarar estas coisas de forma  leve. Mas o 'factor Vara' deixa-me vagamente deprimido. Penso em tantos e tantos  jovens com carreiras académicas de mérito e esforço, cujos pais se mataram a  trabalhar para lhes pagar estudos e que hoje concorrem a lugares de carteiros  nos CTT ou de vendedores porta a porta e, não sei porquê, sinto-me deprimido.  Este país não é para todos.
P.S. - Para que as coisas fiquem claras,  informo que o sr. (ou dr.) Armando Vara tem a correr contra mim uma acção cível  em que me pede 250 000 euros de indemnização por "ofensas ao seu bom nome".  Porque, algures, eu disse o seguinte: "Quando entra em cena Armando Vara, fico  logo desconfiado por princípio, porque há muitas coisas no passado político dele  de que sou altamente crítico". Aparentemente, o queixoso pensa que por "passado  político" eu quis insinuar outras coisas, que a sua consciência ou o seu  invocado "bom nome" lhe sugerem. Eu sei que o Código Civil diz que todos têm  direito ao bom nome e que o bom nome se presume. Mas eu cá continuo a acreditar  noutros valores: o bom nome, para mim, não se presume, não se apregoa, não se  compra, nem se fabrica em série – ou se tem ou não se tem. O tribunal dirá, mas,  até lá e mesmo depois disso, não estou cativo do "bom nome" do sr. Armando Vara.  Era o que faltava!
Se não foi apagado... isto está no site  institucional do BCP
Vejam bem os anos de licenciatura e de  pós-graduação!!!!!
Armando António Martins Vara
Dados  pessoais:
Data de nascimento: 27 de Março de 1954
Naturalidade: Vinhais -  Bragança
Nacionalidade: Portuguesa
Cargo: Vice-Presidente do Conselho de  Administração Executivo
Início de Funções: 16 de Janeiro de 2008
Mandato  em Curso: 2008/2010
Formação e experiência Académica
Formação:
2005 -  Licenciatura em Relações Internacionais (UNI)
2004 - Pós-Graduação em Gestão  Empresarial (ISCTE)
http://www.millenniumbcp.pt/pubs/pt/grupobcp/quemsomos/orgaossociais//article.jhtml?articleID=217516
Extraordinário...
CV  de fazer inveja a qualquer gestor de topo, que nunca tenha perdido tempo em  tachos e no PS !
Conseguiu tirar uma Pós-graduação ANTES da  licenciatura...
Ou a pós-graduação não era pós-graduação ou foi tirada com o  mesmo professor da licenciatura, dele e do Eng. Sócrates...e viva o BCP e o seu  "bom nome"  !!!

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